'Linhão' que liga cidades do Vale do Juruá ao Sistema Integrado Nacional começa a funcionar no interior do Acre

  • 17/12/2024
(Foto: Reprodução)
'Linhão' começou a operar em Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves nessa segunda-feira (16) com fornecimento de energia para as regiões que dependiam de usina termoelétrica Linhão começou a funcionar em Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves Reprodução/Rede Amazônica Acre O sistema integrado de transmissão de energia, mais conhecido como 'linhão', foi ativado para os municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves, no Vale do Juruá, interior do Acre, nessa segunda-feira (16) com fornecimento de energia para a região. 📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp O linhão parte de Rio Branco, numa extensão de 632 quilômetros, e teve um investimento de R$ 370 milhões, inicialmente. A obra foi dividida em duas etapas: uma subestação no município de Feijó, interligando a cidade até a capital acreana, e interligação de Feijó a Cruzeiro do Sul. Em 2023, houve a interligação de Feijó e Tarauacá, na Região Tarauacá/Envira. Os municípios estão conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e mais de 90 mil consumidores receberão energia elétrica por meio da linha de transmissão. Cidades do Juruá passam a estar interligadas ao Sistema Nacional de Energia Com a ligação do sistema, a termoelétrica de Cruzeiro do sul , que antes abastecia as cidades, será desativada e vai dispensar o consumo de cerca de seis milhões de óleo diesel por ano. As despesas para manter a termoelétrica eram estimadas em R$ 240 milhões por ano. O coordenador comercial da Energisa no Juruá, Pedro Henrique Costa, explicou que os testes iniciaram ainda no domingo (15). Já na madrugada de segunda o sistema passou a ser totalmente operado pelo 'linhão'. "Cruzeiro do Sul e a região do Juruá estão interligados aos Sistema Interligado Nacional de Energia Elétrica", destacou. Com a redução dos gastos em manutenção, os consumidores da região também esperam a redução das tarifas. "Espero que para nós diminua também porque já que diminui os valores, espero que para o consumidor também baixe", contou o aposentado João Batista Galvão. Usina Termoelétrica de Cruzeiro do Sul, que consumia cerca de 6 milhões de litros de óleo diesel por ano, será desativada Reprodução/Rede Amazônica Acre O servente de pedreiro Erisson Tributino também está com expectativas de redução no valor do talão de luz. "Que fique melhor, que fique mais em conta", resumiu. A distribuidora de energia garante que as cidades passam a ter um sistema mais eficiente e com maior qualidade na energia. Ao mesmo tempo em vai evitar a emissão de gases poluentes. "Com relação as tarifas que chegam para o consumidor, é determinada pela Aneel, que com certeza deve fazer um estudo sobre essa relação dos impactos", disse o coordenador comercial da Energisa. Menos barulho Os moradores da região onde a termoelétrica funcionava também já passaram sentir os benefícios a partir do momento em que a base de produção de energia foi desativada. O aposentado João Batista Galvão contou a experiência de ficar sem barulho do local. "Dezessete anos escutando barulho. Aqui colocava para quebrar, nem trovão de tempestade era daquele jeito [barulhento]. Tinha dia que a gente não aguentava, só quem mora aqui perto sabe. Eu falava: 'um dia ela sai daqui'', disse. Erisson Tributino revelou que o barulho tirava o sono dos moradores. "Todo dia, toda hora aquela 'zoada'. Agora está mais tranquilo", comemorou. Linhão As linhas de construção para transmissão de energia para o Juruá tem uma extensão de aproximadamente 685 km e atravessa as terras indígenas. Uma delas, de 385 km, tem início em Rio Branco com término até Feijó. A outra, com 300 km, vai de Feijó até Cruzeiro do Sul. A Eletronorte ganhou, ainda em 2013, o leilão da construção das linhas de transmissão. Inicialmente, a empresa chegou a anunciar que as obras começariam em agosto de 2014 e que teriam um prazo de 24 a 30 meses para finalização. Em um segundo momento, houve o anúncio de que o linhão seria feito a partir de agosto de 2015. Em 2015, o Ministério Público Federal no Acre (MPF-AC) recomendou aos institutos ambientais que o processo de licenciamento do Linhão fosse interrompido. Segundo o órgão, foi detectado que o linhão passava sobre a Terra Indígena Campinas/Katukina e a Reserva Extrativista do Riozinho da Liberdade. Já em 2016, a Eletronorte solicitou ao Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) licença prévia e renovação de licença para as construções do linhão. Em 2019, o MPF recomendou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tomassem providências sobre algumas irregularidades da obra do linhão. Foi assinado um Termo de Cooperação Técnica para ofertar aos Katukinas cursos, apoio para realização de festival indígena, acesso a eventos de artesanato de nível nacional, entrega de carteira de artesão, dentre outras parcerias que, no total, somariam R$ 27 milhões. Isto foi feito para reduzir os danos ambientais causados pela construção do linhão. Alvo de polêmica Em março deste ano, um procurador do Ministério Público Federal (MPF-AC), três superintendentes do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Ibama) e quatro funcionários do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) foram impedidos de deixar a Terra Indígena Campinas/Katukina, distante 80 quilômetros da cidade de Cruzeiro do Sul. O processo de negociação era para que os indígenas tivessem alguns benefícios para a comunidade após a construção do 'Linhão', que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul. Na ocasião, o MPF foi ao local para formalizar a assinatura do termo de adesão. No mesmo dia, os funcionários do Idaf foram liberados e horas depois as demais pessoas. À Rede Amazônica, o cacique da aldeia, Edilson Rosas Noke Koi negou que a comunidade tivesse feito os servidores reféns e disse que apenas estava tentando resolver questões relacionadas as obras executadas na região. Imagens mostram início de discussão entre indígenas e comitiva na comunidade Katukina Na comitiva que visitou o local, também estavam outros funcionários do MPF. De acordo com o Instituto, os indígenas chegaram a pedir um valor de R$ 30 milhões em conta para liberá-los. Imagens enviadas ao g1 mostraram o início da discussão entre a liderança indígena e a comitiva durante a reunião (veja acima). Os indígenas teriam apontado irregularidades, incluindo a derrubada de 100 Samaúmas, árvores que o povo Noke Koi considera sagradas, para a construção da estrada de acesso às torres do 'Linhão'. Eles teriam ainda exigido compensação pelos transtornos, barrando a saída da comitiva até que um acordo fosse alcançado. LEIA TAMBÉM: MPF recomenda que concessão do linhão que liga cidades do AC seja retirada de leilão da Aneel MPF-AC diz que obras de Linhão do Juruá atingem terras indígenas Obra de 'Linhão' até Cruzeiro do Sul deve gerar 1,2 mil empregos diretos Eletronorte solicita licença para obras de linhão até Cruzeiro do Sul Construção do Linhão do Juruá deve iniciar em agosto, afirma Eletronorte A Polícia Federal (PF-AC) chegou a ser acionada para acompanhar o resgate. Segundo o cacique dos Noke Koi, os indígenas chegaram a considerar fazer os servidores reféns, porém, não teriam executado de fato o plano. Ele alega ainda que o objetivo da aldeia era apenas apontar os problemas que as obras estavam trazendo para a população local. Ele enfatizou ainda que os termos definidos pelo Estudo de Impacto Ambiental (CI-EIA) e Plano Básico Ambiental (CI-PBA), para o licenciamento ambiental não estavam sendo cumpridos. “Porque quando nós fizemos o estudo de árvores sagradas, não era para ter derrubado, né? E hoje chegaram, a ciência, sem autorização de ninguém, que derrubaram cem Samaúmas”, reclamou. Na época, o MPF disse ter recebido a lista de reclamações dos indígenas. Foi feito um acordo com o representante local da empresa responsável pelas obras para que esclarecimentos fossem dados em até cinco dias. As obras ficaram paralisadas até que a situação fosse resolvida Em contato com a empresa Zipone, o g1 foi informado que a transmissora seguia rigorosamente todas as condições especificadas no Estudo do Componente Indígena (CI-PBA), aprovado pela comunidade indígena e pela Funai e o Plano Básico Ambiental (PBA), aprovado pelo Ibama. Em maio, após uma reunião entre o Ministério Público Federal, a empresa Zopone e lideranças do povo indígena Noke Koi, as obras do “linhão” foram retomadas. VÍDEOS: g1 u

FONTE: https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2024/12/17/linhao-que-liga-cidades-do-vale-do-jurua-ao-sistema-integrado-nacional-comeca-a-funcionar-no-interior-do-acre.ghtml


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