Mulher é condenada a quase 35 anos pela morte de adolescente de 13 anos achada em cova rasa no Acre
18/12/2024
Tatiane Souza da Silva foi a oitava e última condenada pela morte de Raquel Melo de Lima, achada morta em janeiro de 2021. Ao todo, eram oito réus no processo, mas sete foram ouvidos e condenados ainda na época do crime. Raquel Melo de Lima, de 13 anos, foi morta em Rio Branco
Arquivo pessoal
Tatiane Souza da Silva, a 8ª acusada de participação na morte da adolescente Raquel Melo de Lima, de 13 anos, achada enterrada em uma cova rasa, em janeiro de 2021, foi condenada a 34 anos, 11 meses e 6 dias de prisão em regime inicialmente fechado, além de 110 dias de multa.
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A sentença foi decidida pelo Tribunal do Júri da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco e assinada pelo juiz Robson Ribeiro Aleixo na última segunda-feira (16). A mulher foi responsabilizada pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, cárcere privado, ocultação de cadáver e por integrar organização criminosa.
Na sentença, ainda descreve que Tatiane não tem o direito de recorrer em liberdade.
Ao g1, a advogada Gisele Vargas disse que esclareceu Tatiana acerca dos fatos e provas contidas nos autos e que orientou pela confissão da participação da acusada no crime.
"Diante disso, a decisão a partir do confronto entre a diminuição de suas chances de absolvição e a expectativa de redução da reprimenda, a Tatiana optou por confessar espontaneamente a sua participação nos delitos, tendo reconhecido pelo magistrado a redução da pena por ser ré primária e pela confissão espontânea", falou.
O caso
Consta no documento que a vítima foi decretada pelo "Tribunal do Crime", o qual optou pela sua execução, por entenderem que ela estaria repassando informações à facção rival e que buscava justiça pela morte de sua tia/irmã.
"O modo de execução da vítima não foi apenas por disparos de arma de fogo, ela sofreu vários golpes de faca, o que já é considerado um alto grau de brutalidade, demonstrando extrema frieza no modo de execução do delito. O Conselho de Sentença também reconheceu que o crime foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima", disse.
Na decisão, detalha que a mãe da vítima ainda convive com o trauma, necessitando de amparo psicológico após os acontecimentos traumáticos que aconteceram após os crimes, de acordo com o depoimento prestado por sua filha em juízo.
"Aliado a isso após o homicídio a família da vítima foi expulsa do bairro pelos integrantes da facção, como uma forma de represália por terem comunicado o crime à polícia, e como se não bastasse todo o sofrimento que lhe causaram, ainda queimaram a casa dos familiares da vítima, acarretando na perda de todos os pertences da família de Raquel", informou.
A denúncia foi feita pelo Ministério Público do Acre (MP-AC), e teve como representante o Promotor de Justiça Carlos Pescador. A sessão será presidida pelo Juiz Robson Ribeiro Aleixo e a ré teve a defensora pública Gabriella de Andrade Virgilio designada para sua defesa.
Ao todo, oito foram denunciados por participação na morte de adolescente
Reprodução
Julgamento anterior
Ao todo, foram oito réus no processo, e após dois dias de julgamento, os sete acusados de participação na morte foram condenados a mais de 320 anos de prisão em regime inicial fechado, ainda em 2021. Tatiane estava foragida à época, segundo a Justiça e por isso foi julgada de forma separada.
O resultado foi dado através de júri popular. O júri sentenciou em 2021 os acusados da seguinte forma:
Yago da Silva Sabino - condenado a 41 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão e 70 dias multa;
Thyego da Silva Sabino - condenado a 41 anos, 9 meses e 10 de dias de prisão e 70 dias multa;
Rosinei Pereira Santos - condenado a 46 anos, 5 meses e 10 dias de reclusão e 80 dias multa;
Janes Cley Pereira Santos - condenado a 53 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão e 90 dias multa;
Rosinaldo Pereira Santos - condenado a 43 anos, 3 meses, 10 dias e 80 dias multa;
Francisco Elcivan Leandro Rodrigues - condenado a 47 anos, 7 meses, 10 dias e 80 dias multa;
Francisca Roberta Gomes de Araújo Cruz - condenada a 46 anos, 5 meses e 10 dias e 80 dias multa.
Denúncia
Os oito foram denunciados pelos crimes de sequestro, homicídio qualificado, ocultação de cadáver, corrupção de menores e por integrar organização criminosa.
Consta na denúncia que no dia 29 de janeiro de 2021, os acusados sequestraram a adolescente e a mãe dela quando as duas saíam de uma igreja. Os criminosos então teriam examinado o celular de Raquel para saber se ela tinha ligação com a facção rival e levaram as duas para um local enquanto aguardavam uma decisão sobre qual seria o fim das duas.
Adolescente foi achada morta com um tiro no rosto enterrada em área de invasão em Rio Branco
Arquivo/Bope
Após decisão do chamado "tribunal do crime", os acusados liberaram a mãe da adolescente sob ameaças de que se ela acionasse a polícia também seria morta. Em seguida, eles levaram Raquel para uma área de mata e a mataram com tiros de arma de fogo e dezenas de golpes de faca. O grupo então enterrou a menina em cova rasa.
A motivação do crime, conforme a denúncia, foi uma vingança, uma vez que os acusados acreditavam que a vítima estava interagindo com a facção rival a que eles pertenciam.
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Morte e prisões
O corpo de Raquel foi achado por uma equipe do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em uma área de invasão. A motivação para o crime seria porque os criminosos acharam no telefone da vítima mensagens e referências a outra facção. Ela foi arrastada de dentro de uma igreja para ser morta com um tiro no rosto.
Conforme a Polícia Civil, a menina foi morta dois dias antes de o corpo ser encontrado enterrado. A investigação apontou ainda que a vítima foi submetida ao “tribunal do crime” e, após várias horas de cárcere, os autores efetuaram disparos de arma de fogo e golpes de arma branca.
No mesmo dia em que o corpo da adolescente foi encontrado, a polícia prendeu em flagrante os irmãos Yago da Silva Sabino, de 20 anos, e Tyego da Silva Sabino, de 18, suspeitos de participação no crime. Essa prisão em flagrante foi convertida em preventiva pela Justiça acreana.
No dia 3 de fevereiro de 2021, outros quatro suspeitos de participação na morte da adolescente foram presos. Com o grupo, a Polícia Militar encontrou uma das armas que teria sido usada para matar a adolescente.
No dia 11 de março do mesmo ano, uma mulher de 34 anos foi presa suspeita de participar da morte da adolescente. Na época, a Polícia Civil informou que a mulher estava foragida e foi capturada em uma rua do bairro Recanto dos Buritis, Segundo Distrito da capital acreana. A suspeita faz parte de uma organização criminosa e já responde por diversos crimes na Vara de Organização criminosa do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC).
No último dia 2 de junho de 2021, mais um foi preso suspeito de participar da morte da adolescente Raquel Melo de Lima. Com mais essa prisão, são oito pessoas detidas suspeitas de participação da morte da adolescente.
Casas incendiadas
Após o corpo de Raquel ser achado, duas casas de familiares de Raquel foram incendiadas no Ramal do Pica-Pau. A suspeita da polícia é que tenha sido uma retaliação após a prisão de dois suspeitos do crime.
Entre as casas incendiadas está a da mãe de Raquel. Segundo a Polícia Civil, ela já tinha se mudado do local logo após o crime e, por isso, o imóvel estava vazio no momento do incêndio.
Lidinalva de Melo Viana, de 13 anos, foi achada morta meses depois
Arquivo pessoal
Ossada da irmã e cunhado achada
Equipes da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) acharam no dia 9 de junho de 2021, duas ossadas humanas no Ramal do Pica-Pau. Segundo as investigações, uma das vítimas é irmã da adolescente Raquel. As ossadas estavam próximas ao local onde o corpo da adolescente foi achado.
Lidinalva de Melo Viana, de 13 anos, e o namorado José Daniel do Nascimento, de 19, foram assassinados em setembro de 2020 por membros de uma facção criminosa. Eles estavam desaparecidos desde a época do crime e a polícia fazia buscas. A motivação para o crime, segundo a polícia, seria a saída do casal da organização e ida para outro grupo criminoso.
Contudo, eles ficaram morando no mesmo bairro dos antigos comparsas e tiveram a morte decretada. Lidinalva e José Daniel foram enterrados na mesma cova, e os criminosos colocaram o corpo dela em cima do rapaz.
Corpos foram achados em uma cova rasa no Ramal do Pica Pau, em Rio Branco
Arquivo pessoal
Casal cavou a própria cova
Ainda segundo as investigações, Lidinalva e José Daniel foram levados até o local do crime e cavaram a própria cova. Após abrirem o buraco, os dois teriam sido mortos a golpes de faca e tiros.
A cova fica próxima do local onde o corpo de Raquel foi enterrado. A DHPP informou que vão ser feitos exames cadavéricos ainda para confirmação da identidade das vítimas.
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VÍDEOS: g1